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Quem de nós não sonha em ficar bem velhinho e cheio de saúde e de histórias para contar aos nossos netos? Mas para que isso aconteça, de forma agradável, sem os percalços inerentes ao envelhecimento, devemos começar , desde já, a estudar o processo do envelhecimento para que possamos envelhecer melhor e cuidar melhos de nossos idosos. FAÇA UM CURSO PARA CAPACITAÇÃO EM CUIDADOR DE IDOSOS!

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

O PODER DA MÚSICA

Terapia auxilia promoção do bem-estar e da qualidade de vida dos idosos
Há músicas que nos remetem à infância, ao primeiro amor, a uma grande decepção, ao casamento, ao nascimento de um filho. As músicas têm o poder de compor a memória musical de uma pessoa e também de despertar sentimentos e emoções que podem até melhorar a saúde dos idosos. “A música pode facilitar a comunicação, uma vez que não requer a linguagem verbal como veículo das respostas e pode melhorar o comportamento”, explica Cléo Correia, musicoterapeuta do setor de Neurologia do Comportamento da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Um estudo das Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU) em 2009 revelou que idosos que estavam internados por conta de problemas cardíacos, apresentaram melhora significativa de humor e se recuperaram mais rápido depois que foram submetidos a um repertório musical personalizado, criado a partir de seus próprios gostos musicais. “Esses idosos reviveram através da música, passaram a se sentir bem e se recuperaram mais rapidamente do que os outros que não passaram pela musicoterapia, que foram definhando”, comenta Maristela Smith, professora e coordenadora dos cursos de graduação e pós-graduação de musicoterapia e da Clínica-escola de Musicoterapia da FMU.
Maristela explica também que a música pode ser usada em benefício da saúde de duas formas: preventiva ou terapêutica. No primeiro caso, as canções são aplicadas em atividades recreativas com idosos saudáveis. Na segunda situação, as músicas podem minimizar os sintomas de Parkinson e Alzheimer, colaborar na recuperação de problemas motores, portadores de deficiência mental, entre outros. “Os sons estimulam a mente porque atingem, ao mesmo tempo, o hemisfério direito, ligado à criatividade, e o esquerdo, do raciocínio", diz

ATENÇÃO AO CUIDADOR

CCI Aconchego promove encontros de apoio a familiares que cuidam de idosos
Pensando no bem-estar de cuidadores e idosos, o CCI – Centro de Convivência do Idoso Aconchego de Botucatu (SP) tem oferecido o grupo de familiares cuidadores de idosos. O objetivo dos encontros é fazer com que familiares que cuidam de idosos possam compartilhar experiências, espairecer e, principalmente, ter um momento reservado só para eles.
Qualquer pessoa que cuide de um familiar idoso pode participar do grupo que acontece quinzenalmente às terças-feiras, das 13h30 às 15h30, sob a coordenação da psicóloga da instituição, Carolina Sasso Lacase.
Para mais informações sobre como participar do encontro, entre em contato com o CCI Aconchego, através do telefone (14) 3813-7070 ou através do e-mail cciaconchego

INSTITUCIONALIZAÇÃOP DO IDOSO É ALTERNATIVA DE CUIDADO

Terceira idade tem seu bem-estar físico e mental assegurados em casas de repouso
A institucionalização do idoso sempre foi uma decisão polêmica e difícil para familiares e idosos. A ideia de colocar um membro da família em uma casa de repouso é vista por muitas pessoas como um ato de abandono. Entretanto, este quadro está mudando devido ao novo conceito de casas de repouso para a terceira idade que tem surgido e também por causa da preocupação com o bem estar físico e mental dos idosos.
Especialistas defendem que a institucionalização do idoso é o melhor caminho quando a família já não tem condições de cuidar em casa, por diversos fatores: disponibilidade para cuidar do idoso, quando a residência não possui adequação física, quando o cuidador está sobrecarregado ou em casos que a dependência do idoso está em um grau extremo.
“Sou a favor da institucionalização quando o cuidado em casa não está sendo adequado. Tem de pensar na saúde do idoso e do cuidador, que acaba ficando sobrecarregado”, explicou a gerontóloga Ana Lúcia Marques.
A cuidadora Elizabete Palmeira, que cuidou da sogra em casa por mais de dois anos, passou pela difícil situação de colocar a idosa em uma casa de repouso. Entretanto, Elizabete reconhece que este foi o melhor caminho tanto para ela como para a idosa.
“Para mim, colocar ela em uma clínica foi um sentimento de dor e abandono. Foi reconhecer que eu não fui capaz de dar a ela os cuidados necessários. Mas tenho que analisar não só a qualidade de vida dela como a minha”, contou Elizabete.
O psicólogo e dono de um hotel para terceira idade em São Paulo, Paulo Greven, explica que o estigma social que as casas de repouso têm de serem um local de abandono de idosos está mudando. “Está havendo uma modificação importante até por causa da qualidade das novas casas que estão surgindo. Eu sou otimista e acredito que com o amadurecimento da sociedade as pessoas vão começar a compreender, a valorizar o que a gente chama de terceira idade”, disse o psicólogo.
Greven ainda afirma que as famílias priorizam o bem estar do idoso ao procurarem uma casa de repouso. “O que mais acontece são as famílias que estão preocupadas que os seus parentes, pais ou avós, estão morando sozinhos e têm dificuldade de lidar com as atividades da vida diária. Não que eles sejam dependentes, mas eles têm dificuldade para conviver com a questão do supermercado, do banco ou da empregada doméstica”.

Por Suellen Mota
SAIBA QUAIS SÃO OS CUIDADOS AO OPTAR POR UMA CASA DE REEPOUSO

Estrutura física e quadro de funcionários são os principais critérios na hora da escolha
Depois de decidir que o melhor caminho para a saúde e o bem estar do idoso é internar-lo em uma casa de repouso a família inicia o processo de escolha do local. Neste momento, é necessário saber quais os critérios para que a clínica escolhida cumpra as normas estabelecidas pelos órgãos responsáveis.
A professora Helena Watanabe, do Departamento de Prática de Saúde Pública - Faculdade de Saúde Pública/USP, explica que os requisitos básicos de uma casa de repouso são: seguir as normas da Vigilância Sanitária em relação à edificação e ter um responsável técnico com formação de nível superior, preferencialmente um curso da área da saúde, que responderá pela instituição junto à vigilância sanitária local.
“Se o idoso possuir algum tipo de dependência é necessário que a instituição escolhida tenha recursos humanos com formação específica: médico, enfermeiros, auxiliares e técnicos de enfermagem, fisioterapeuta, terapeuta ocupacional e nutricionista”, explicou a professora.
A Covisa (Coordenação de Vigilância em Saúde), órgão da Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo, enumera algumas orientações aos familiares que pretendem colocar seus idosos em uma casa de repouso:
• O local deve ser limpo, iluminado e ventilado;
• O piso do local deve ser antiderrapante e uniforme;
• Nas escadas, além do piso antiderrapante, deve haver sinalização no primeiro e no último degrau;
• Nas rampas e corredores deve haver barras de apoio ou corrimão;
• No banheiro deve comportar cadeiras de rodas. Os sanitários e chuveiros devem ter barras de apoio;
• As janelas e sacadas devem ter tela de proteção ou grades;
• Nos quartos as roupas de cama devem ser trocadas com frequência e estarem limpas;
Para observar se as orientações da Covisa são cumpridas pela clínica é necessário que a família faça visitas constantes e em horários diferenciados. Dessa maneira, os familiares ainda conseguem observar como é o funcionamento da instituição, se o lugar é permanentemente limpo e como funciona o horário de alimentação.
Nestas visitas, os familiares também podem conversar com os idosos que já estão internados bem como seus familiares e assim percebem se alguns critérios, estabelecidos pela Vigilância Sanitária, órgão responsável por fiscalizar esse tipo de serviço, são garantidos pelo residencial:
• Prevenir e coibir qualquer tipo de violência ou descriminação contra os residentes;
• Promover atividades de lazer e que estimulem a autonomia dos idosos assim como sua integração com pessoas de outras gerações e a comunidade local;
• Incentivar e promover a participação da família e da comunidade na atenção ao idoso residente;
• Promover o convívio entre os residentes de todos os tipos de dependência;
• Preservar a identidade e a privacidade do idoso.
Em relação ao quadro de funcionários a Vigilância também estabelece um número mínimo de profissionais para cada tipo de serviço realizado na clínica:
• Para alimentação, um profissional para cada 20 idosos;
• Para limpeza, um profissional para cada 100 m2 de área interna da instituição;
• Para serviço de lavanderia, um profissional para cada 30 idosos;
• Para atividades de lazer, um profissional com formação de nível superior para cada 40 idosos com carga horária de 12 horas semanais. As atividades de lazer dependem do grau de dependência do idoso:
a) Grau de Dependência I (idosos independentes): um cuidador para cada 20 idosos, ou fração, com carga horária de 8 horas/dia;
b) Grau de Dependência II (idosos com dependência em até três atividades de cotidianas como: alimentação, mobilidade, higiene): um cuidador para cada 10 idosos, ou fração, por turno;
c) Grau de Dependência III (idosos totalmente dependentes): um cuidador para cada seis idosos, ou fração, por turno.
A Vigilância Sanitária também exige adaptações na estrutura física do local que são importantes para evitar acidentes com os idosos e garantir espaços para a realização de atividades físicas e/ou de lazer. De maneira geral, deve existir uma área externa para convivência entre os residentes e a realização de atividades ao ar livre. Salas para apoio individual e sala para atividades coletivas de até 15 residentes são bem-vindas. Também é interessante possuir um espaço ecumênico ou para meditação.
Em relação ao banho e à higiene pessoal, é importante que o banheiro seja separado por sexo, com no mínimo, um box para vaso sanitário que permita a transferência frontal e lateral de uma pessoa em cadeira de rodas. Para os idosos semi-dependentes ou independentes é importante que o banheiro não tenha desnível em forma de degrau para conter a água, nem o uso de revestimentos escorregadios.
Os dormitórios devem ser separados por sexo, para no máximo quatro pessoas e com banheiro. A distância mínima entre duas camas deve ser de 80 cm, já o espaço entre a cama e a parede deve ser de 50 cm.
As janelas e guarda-corpos devem ter peitoris de no mínimo 1,0 m., as portas um vão livre de no mínimo 1,10 m. Tanto as janelas quanto as portas devem conter travamento simples, sem o uso de trancas ou chaves. Todos os corredores devem ter corrimão. Se a largura do corredor for maior ou igual a 1,5m, é necessário que haja corrimão dos dois lados do corredor.
Alimentos coloridos ajudam na alimentação do idoso
Corantes naturais podem diversificar a aparência dos pratos
Você já deve ter ouvido falar que comida se come primeiro com os olhos. Segundo especialistas, é esse ditado que pode ajudar um cuidador na hora de convencer o idoso a se alimentar. Pratos com boa aparência e sempre diferentes são o que faltava para o prazer voltar a fazer parte das refeições.
“A resistência na hora de se alimentar é bastante comum entre os pacientes que sofrem de alguma doença e estão acamados. É nesse momento que precisamos partir para um plano B, C ou D, e uma das alternativas é variar na cor dos alimentos para a pessoa se sentir atraída pelo o que está vendo e não achar que está comendo sempre a mesma coisa”, explicou Elci Almeida Fernandes, nutricionista especializada em geriatria.
Em geral, os idosos com doenças em estágios avançados têm dietas específicas e precisam ingerir os mesmos alimentos com certa frequência. O desafio de quem cuida é pensar em como não deixar o idoso enjoar do cardápio. “Alguns legumes, por exemplo, quando batidos no liquidificador, resultam sempre em sopas com cores parecidas. O que fazemos para dar uma cara diferente ao prato é usar corantes naturais”, indicou.
Os mais conhecidos são a páprica (obtido do pimentão doce depois que ele é seco e moído) e o colorau (obtido de sementes de urucum), de tom avermelhado, e o açafrão (extraído de uma flor), de tom amarelado. Os três corantes podem ser encontrados em supermercados.
Por Bianca Daga

A CASA PARA A VIDA TODA
Dicas de adaptações e adequações na arquitetura oferecem moradia segura ao idoso
A casa, geralmente, é o local que nos garante conforto e segurança. Mas, para a população idosa, ou mesmo para pessoas que apresentam mobilidade reduzida, nem sempre é assim.
Dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) apontam que em 2030 o número de pessoas com mais de 60 anos de idade deve chegar a 30 milhões, ou seja, 15% da população brasileira será composta por idosos.
Essa realidade já mobiliza a área da arquitetura a pensar em projetos de residências, e também de espaços públicos, adequados para pessoas da terceira idade. Nessa fase do envelhecimento, a predisposição a quedas, por exemplo, aumenta consideravelmente. Por isso, dicas de adaptações a serem feitas em residências com moradores idosos podem evitar muitos transtornos.
A arquiteta Maria Luisa Trindade Bestetti, que atua junto ao curso de gerontologia da Universidade de São Paulo, reconhece que ainda existe resistência para pensar na casa ideal para o idoso. “É como se ninguém envelhecesse, ou então não houvesse mudanças, como se a casa fosse projetada para a pessoa em qualquer situação de vida”, explicou a arquiteta. E completou, “mas há, sim, aspectos relacionados ao ambiente físico que interferem no envelhecimento”.
Conheça as principais dicas dos profissionais para tornar o ambiente residencial mais adequado para a pessoa idosa.

Desníveis
Muitos idosos apresentam dificuldades em realizar os movimentos de subida e descida de degraus, locais favoráveis a acidentes graves e que podem ter início com um simples desequilíbrio.
“Até há pouco tempo fazíamos projetos de residências com muitas escadas, com níveis diferentes. Era considerado charme”, disse a arquiteta e professora de Projetos Arquitetônicos da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Maria Pronin. “Isso começa a ficar difícil para a pessoa idosa. Quanto menos escada melhor”, completou.
A primeira dica no caso de escadas é a instalação de corrimãos, de preferência, dos dois lados. “Já melhora bastante porque cria algum dispositivo de apoio para garantir a segurança no caso de um escorregão, de uma queda ou de um esbarrão, por exemplo”, afirmou a arquiteta e professora da USP, Maria Luisa Bestetti.

Outra medida preventiva são as fitas antiderrapantes no início de cada degrau. Elas retêm o movimento do pé de deslizar de um nível para o outro, na descida. Na subida, travam o pé no início do degrau, no primeiro momento, para depois auxiliar o deslizamento até o final dele, evitando o desequilíbrio.
A instalação de uma pequena área de piso emborrachado e antiderrapante no intervalo de um lance para outro de degraus, também é aconselhável. Oferece-se ainda mais segurança para o idoso na subida e descida de escadas.

A casa para a vida toda (continuação)
Tapetes e Cortinas
Os tapetes e tapetinhos soltos talvez sejam os protagonistas clássicos das diversas histórias de tropeções que podem acabar em quedas e fraturas graves. A orientação mais segura para evitar esses problemas é simples: não usar tapetes. E se engana quem pensa que só os pequenos representam ameaças. Os grandes e pesados também podem ser responsáveis por esses tipos de acidentes.
Se retirar os tapetes da casa não for uma opção agradável, existem algumas dicas que podem diminuir os riscos de quedas.
Para as peças maiores, geralmente utilizadas em salas de estar, é recomendável que as pontas sejam prendidas ao chão. Apesar do peso e tamanho dificultar a movimentação da peça, as pontas, com o tempo, tem a tendência de enrolar e tornarem-se pequenos, mas significativos obstáculos. Outra forma de evitar que as pontas enrolem, é criar o hábito de circulação mais pelo meio do tapete, na extensão da lateral da peça, e não pelas pontas.
Os tapetes menores, mais utilizados em quartos, cozinhas e banheiros, geralmente são mais leves e fáceis de se locomoverem ao toque dos pés. Por isso, também são os mais propícios aos chamados “escorregões”. A ocorrência desses incidentes pode diminuir se os tapetinhos forem fixados no chão com fita dupla-face, por exemplo, ficando atentos para a troca das fitas após a lavagem das peças.
Outra alternativa é usar os tapetes com sucção, que dão bastante aderência ao piso e não representam perigo para a locomoção dos idosos.

“Já existem uns artefatos de borracha, que são colocados por baixo do tapete fazendo com que ele trave e não saia do lugar. Alguns são costurados, pelo menos numa das pontas. O tapete acaba ficando solto e, portanto, fácil de retirar para lavar. Isso se encontra com facilidade em lojas de tapeçaria. O material em rolo permite que você compre o tamanho necessário”, explicou a arquiteta e professora da Universidade de São Paulo, Maria Luisa Trindade Bestetti.
Outra peça que também pode contribuir com quedas, lesões e fraturas são as cortinas, mais encontradas em salas e quartos. As compridas demais que acumulam tecido dobrado no chão são ótimas oportunidades de enroscar os pés e provocar tombos. O comprimento ideal da peça é aquele que encoste no chão, mas não acumule tecido.

Interruptores e Tomadas
A rotina do idoso em uma residência pode ser facilitada quando se pensa também nas alturas dos dispositivos que ele manuseia. Os interruptores, normalmente, já são disponibilizados na altura do braço esticado, ou mais abaixo. Isso facilita, por exemplo, acender ou apagar a luz dos cômodos da casa. E não somente para os idosos.
As tomadas, porém, não seguem a mesma lógica de acesso fácil e sempre estão dispostas próximas ao chão. Para a pessoa mais idosa, ter que se abaixar para alcançar o dispositivo nem sempre é recomendável.
A casa para a vida toda (continuação)
“A tomada não pode ficar muito baixa. Deve estar na mesma altura do interruptor. Sempre na altura mais visível”, disse a arquiteta e professora de Conforto Ambiental da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo Roberta Consentino Kronka Mülfarth.
Além do próprio acesso, as tomadas em alturas mais altas evitam outro problema para os idosos: os fios de eletrodomésticos e aparelhos eletrônicos que ficam espalhados pelo chão e também podem provocar acidentes.
“O idoso não pode ter muito fio no chão. Tem que ter uma adaptação para nunca ter o fio cruzando o ambiente”, disse a arquiteta e professora de Projetos Arquitetônicos da Universidade Presbiteriana Mackenzie Maria Pronin.

Cozinha
Para facilitar a manutenção e limpeza do piso, geralmente, o tipo que encontramos na cozinha é frio e liso. Esse piso tende a ficar escorregadio por um agravante característico desse espaço: a gordura. Para evitar a possibilidade de quedas, a orientação são os pisos antiderrapantes ou com rugosidades que criem uma restrição no escorregar. Assim, a facilidade de limpeza e manutenção pode ser mantida.
Os armários aéreos, dispostos acima de pias e bancadas, muitas vezes, são colocados em altura acessível para determinado usuário. Isso facilita o acesso aos objetos, mas também pode acabar significando obstáculos para a cabeça além de escurecerem a área da bancada. É aconselhável, então, a instalação de pequenas lâmpadas em baixo dos armários, porque se mantém iluminadas as áreas de trabalho e se consegue um acesso mais tranqüilo.
Ainda para evitar acidentes, a arquiteta e professora da Universidade de São Paulo Maria Luisa Bestetti Trindade aponta uma solução. “É possível deixar os armários mais altos, mas com bacias ou caixas organizadoras com suportes de aramados que fazem com que se consiga puxar e localizar o que se precisa para depois empurrar de volta”, explicou Maria Luisa. “Mas deve se tomar cuidado com o desequilíbrio dos pesos dos objetos para não forçar as caixas”, completou.
O mesmo sistema pode ser utilizado na parte de baixo, em balcões, para evitar o movimento de abaixar e procurar pelos objetos correndo o risco de perda de equilíbrio. “Normalmente, as bancadas de pia têm de 50 a 60 centímetros de profundidade, quando não vemos exageros até de mais. Cabe um monte de coisa, mas se perde a noção de onde elas estão. Fica tudo muito no fundo”, comentou a arquiteta.
Outro cuidado importante que se pode tomar é a instalação de sensores de gás. A situação de colocar a água para ferver, esquecer ou se distrair, e deixar o gás ligado envolvendo o ambiente é bastante conhecida e perigosa. E se engana quem pensa que só os idosos podem passar por isso.
“Existem fogões que já têm um sistema que quando, o leite, por exemplo, transborda e apaga o fogo, o fornecimento de gás é cortado no momento que a chama apagar. São dispositivos que alguns fogões já trazem e isso também é interessante para evitar acidentes”, disse a professora Maria Luisa.
A casa para a vida toda (continuação)
Sala
As mesas de centro geralmente são baixas para estabelecerem uma relação decorativa adequada e proporcional com os estofados que constituem o ambiente. Além disso, cumprem a função de apoio de revistas, copos e outros pequenos objetos em situações de encontro social. Mas até as famosas mesinhas de centro podem oferecer perigo aos moradores mais velhos.
“Elas são ótimas para se bater a canela, especialmente quando não se tem um caminhar muito equilibrado. O equilíbrio, na marcha, se compromete especialmente no idoso que não faz exercício físico, ou não faz permanentemente. Ou um idoso com idade bastante avançada”, disse a arquiteta e professora no curso de gerontologia da Universidade de São Paulo Maria Luisa Trindade Bestetti.
Algumas dicas podem prevenir acidentes com esses objetos. A primeira delas é evitar mesas de centro de vidro, pois são mais difíceis de serem enxergadas e localizadas pelos idosos enquanto estão caminhando. Além disso, em caso de queda, o vidro por ser material cortante e perfurante, pode ser mais um agravante da situação.
Dar preferência para cantos arredondados, que diminuem a gravidade da lesão e hematoma. Caso não seja possível evitar mesas com quinas pontiagudas, utilizar boleados, que desempenham a mesma função dos cantos arredondados.

Outra opção é adquirir mesas ninho, conjunto de mesas diferenciadas pelo tamanho que se encaixam uma na outra. Dessa forma, o espaço ocupado pela peça diminui, uma vez que a disposição de todas as mesas só é utilizada quando necessário. Os riscos de batidas e lesões também se tornam menores.
Nessa mesma lógica, mesas laterais auxiliares e um pouco mais altas e menores são ainda melhores. “Ter objetos de apoio, mesinhas de apoio mais versáteis, inclusive, se possível, dobráveis, encaixáveis, diminui um pouco a quantidade de obstáculos pelo caminho e atende uma necessidade de apoio quando necessária”, explicou a arquiteta Maria Luisa.
Estofados, poltronas e cadeiras com braços garantem maior segurança e conforto para o idoso levantar do assento, pois são pontos de apoio que fornecem estabilidade e possibilitam um movimento de braço que não compromete ombros, cotovelos, articulações e outras partes do corpo.


Mesmo com os braços, os assentos, em geral, não podem ser muito baixos, pois acabam comprometendo o movimento de levantar inutilizando a função de apoio dos braços desses assentos.
De acordo com Maria Luisa Bestetti, os conceitos da ergonomia devem ser considerados na escolha desses tipos de objeto. Essa disciplina científica tem por função, entre outras, avaliar objetos a fim de que eles atendam as necessidades específicas dos usuários promovendo a funcionalidade, bem-estar e conforto.
“Eu vou ter altura, inclinações de encosto, braços e o conforto, a profundidade toda adequada ao esforço que eu vou fazer tanto para sentar, quanto para levantar e, também, a própria permanência na cadeira”, concluiu a arquiteta.
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Quarto
Para facilitar a locomoção e mobilidade do idoso no próprio quarto, é importante observar a disposição dos móveis para evitar a criação de obstáculos.
A cama não precisa ocupar o centro do cômodo se o espaço ao redor ficar limitado e impossibilitar uma caminhada livre. Uma melhor opção é recuá-la um pouco de encontro à parede, mas que ainda deixe um espaço de pequeno corredor hábil para a arrumação da cama, por exemplo.
Uma cabeceira pode ser boa escolha para delimitar esse espaço de pequeno corredor, além de servir como apoio, já que estará travada e não representará perigo de mover-se conforme apoiarem nela.
Apoios ao lado da cama em altura de fácil visualização, ter algum sistema de iluminação auxiliar perto da cama, além do interruptor de luz geral do ambiente também próximo são detalhes que podem proporcionar maior segurança e conforto para o idoso desfrutar do cômodo.

A cama alta também é importante. A altura mínima deve ser aquela em que a pessoa, sentada, fique com os joelhos em um ângulo de 90º e não menos que isso. “Porque se não ela vai ter que fazer esforço para levantar e a própria cama não é apoio”, explicou a arquiteta Maria Luisa Bestetti.



“Para deitar, a pessoa vai se encaixando e para sair, ela levanta o tronco e escorrega da cama aos pouquinhos, se for o caso. O descer da cama é interessante, garante bastante segurança ao idoso”, concluiu a arquiteta.
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Banheiro
O piso frio e liso do banheiro pode facilmente tornar-se escorregadio e ser motivo de quedas para os idosos. Ao sair do banho, resquícios de água ensaboada podem molhar o piso e causar tombos e escorregões com conseqüências graves.
A arquiteta e professora de Projetos Arquitetônicos da Universidade Presbiteriana Mackenzie Maria Pronin tem 61 anos e já passou por essa situação. “Eu já escorreguei outro dia no creme que eu estava passando para o cabelo. Levei um escorregão e fiquei uma semana de cama”, contou a arquiteta.
Pisos antiderrapantes, impermeabilizantes ou com rugosidades, podem evitar ou amenizar os escorregões. Outra opção são tapetes com sucção que aderem firmemente ao piso e não oferecem riscos de saírem do lugar.
A cortina que delimita a área de banho ainda é preferível ao box de vidro ou acrílico, para maior segurança dos idosos. Isso porque em casos de queda, evitam-se cortes e perfurações que estes materiais poderiam causar ao romperem-se.
Outra questão a ser considerada na escolha ou não do box também é a necessidade futura de se utilizar cadeiras especializadas de banho, andador ou outros equipamentos por conta de restrições mais graves dos movimentos. O deslocamento desses materias para fora e dentro da área de banho seria dificultado.
Ainda mais importante que a própria cortina, é a instalação de barras de apoio na área do chuveiro e vaso sanitário. As barras garantem maior segurança em situações de escorregões e podem auxiliar no restabelecimento do equilíbrio.

Um banquinho firme dentro da área de banho é outro detalhe que pode proporcionar uma lavagem mais confiante e tranqüila. Para isso é imprescindível e recomendável que a área comporte espaço suficiente para esse objeto, assim como para os movimentos necessários.

“Sentar, lavar o pé, poder lavar o corpo tranqüilo, ter um apoiozinho. Além da barra de apoio, uma banquetinha, um banquinho estável, bem estável, isso é importante”, disse a arquiteta Maria Luisa Trindade Bestetti que atua junto ao curso de gerontologia da Universidade de São Paulo.
“Tem uns assentos que, depois que você acabou o banho, você levanta e prende na parede do próprio banheiro”, contou a arquiteta Maria Pronin.

A arquiteta e professora de Conforto Ambiental da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo Roberta Consentino Kronka Mülfarth explica que existem projetos que, além de preverem o espaço para sentar dentro da área de banho, eles dispõem os registros de controle de água do chuveiro na parede oposta ao do equipamento também para garantir mais segurança no banho do idoso.
“A pessoa regula a temperatura da água e depois ela vai até o chuveiro. É para evitar um jato muito forte, ou muito quente ou muito frio, o que pode gerar acidentes dentro do banheiro”, afirmou.
A altura do vaso sanitário pode facilitar o uso pelo idoso. A elevação dos vasos por meio de sóculos (base de alvenaria ou similares) ou a utilização de equipamentos externos que adaptam essa altura à necessidade do usuário é outra forma de assegurar uma rotina mais confortável e segura para o idoso.

A professora Roberta também destaca a importância de campainhas ou sistema de sinalizadores dentro dos banheiros. “Se a pessoa tiver algum problema, ela pode avisar. Isso é importante”, concluiu Roberta.
A casa para a vida toda (continuação)
Iluminação
A visão é um dos sentidos que, aos poucos, sofre delimitações por conta do processo de envelhecimento humano. Por esse motivo, a iluminação se faz importante no dia a dia do idoso e pode auxiliar na promoção de conforto e segurança dentro de casa quando bem eficiente. A regra geral é não deixar áreas escurecidas.
A luz geral é aquela do meio do cômodo que ilumina a peça toda e, por isso, imprescindível para a vivência segura do idoso. Mas além dela, ter sempre uma luz auxiliar em todos os ambientes, numa posição acessível é igualmente importante. Se queima a luz geral, e geralmente só se percebe que ela queima quando se aciona o interruptor e a luz não acende, fica-se sem uma alternativa.
Os corredores, geralmente, são os locais mais pouco iluminados das residências. Mas, eles devem receber atenção, principalmente e especialmente quando é caminho para o acesso aos banheiros. As luzes de presença, acionadas conforme a pessoa passa por elas, podem ser boas opções para a ida noturna dos idosos ao banheiro com maior segurança.

Além da própria iluminação eficiente, a instalação de uma barra corrida no corredor também auxilia a locomoção mais segura do idoso durante a noite.

As mesmas luzes de presença do corredor podem ser utilizadas nas entradas das casas para facilitar a busca e escolha pela chave certa, além de permitir uma visão clara de dentro para fora dos visitantes.
As luzes mais brancas, geralmente, são consideradas deprimentes e tristes. As mais amareladas são menos deprimentes e mais aconchegantes. Sempre a luz mais próxima do amarelo e vermelho é uma luz mais aconchegante. Ao contrário da branca.
“Se você faz um ambiente todo frio, acinzentado ou azulado claro, fica monótono, fica muito cor gelada, digamos, associadas a coisas frias, ao gelo, então fica mais triste. E é bom alegrar o ambiente do idoso. Cores quentes, luz aconchegante”, explicou a arquiteta e professora de Projetos Arquitetônicos da Universidade Presbiteriana Mackenzie Maria Pronin.

Janelas
É importante que os idosos que apresentam quadros de limitações mais graves, que estejam acamados ou delimitados ao espaço da residência, apenas, sejam estimulados a contatos com o exterior.
Além da consciência da noção de tempo, se é dia ou noite, sentir o movimento do lado externo e manter contato com a rua e a vida lá fora podem instigar a memória e saúde.
Hoje são mais visíveis em residências, por exemplo, janelas que têm o peitoril de 90 centímetros, de 90 centímetros a 1 metro, até 1 metro e dez centímetros, mas com uma parte de vidro transparente também embaixo e a parte de alvenaria, fixa, mais baixinha. Isso permite que a pessoa em pé, sentada, ou deitada, tenha contato com o lado externo.
O idoso sentado em uma cadeira, por exemplo, mesmo com certa distância da janela conta com uma boa abertura para enxergar o lado de fora. Às vezes, as janelas são até menores em largura, mas elas são maiores em abrangência dependendo da posição que a pessoa está.
“Se ela está numa cadeira-de-rodas não precisa estar muito colada à janela e, aí, ela já está enxergando bem, enxergando longe. Ela consegue abarcar uma boa área do lado de fora, isso é um aspecto bacana”, explicou a arquiteta Maria Luisa Trindade Bestetti.

Obstáculos
A orientação mais simples a respeito da segurança de mobilidade e locomoção da pessoa idosa na própria residência é evitar obstáculos. Em todos os ambientes e cômodos. Isso significa observar os pequenos detalhes que podem limitar a movimentação dessa pessoa idosa no dia a dia. Tapetes soltos, objetos no chão, cestas com revistas, vasos de plantas; objetos que acabam comprometendo a funcionalidade do espaço do idoso.
Essas orientações e dicas para adaptações e adequações do ambiente físico do idoso partem do conceito de desenho universal. “Você projetar hoje pensando que amanhã você pode ficar doente, amanhã, você vai ficar mais velho”, afirmou a arquiteta e professora de Projetos Arquitetônicos da Universidade Presbiteriana Mackenzie Maria Pronin.
Por Camilla Valadão

ONG ASSISTE IDOSOS COM DIFICULDADE DE MORADIA EM SÃO BERNARDO
Associação trabalha com 10 pessoas em situação de vulnerabilidade social
Criada em agosto de 2009, a Associação Envelhe-Ser tem como objetivo dar assistência a idosos em situação de vulnerabilidade social com foco na moradia. A entidade dá suporte técnico para que o idoso consiga um local para morar, mesmo que seja por locação.
A proposta é aproximar idosos em situação de vulnerabilidade e oferecer uma moradia compartilhada. Para isso, a instituição de direito privado e sem fins lucrativos realiza atividades como rifas e eventos para angariar fundos e arcar com as despesas de aluguel e contas de água e luz.
“A ideia é manter pequenas casas dentro da comunidade. Não tem que ter placa, não tem que ter nada disso, porque não é uma instituição. O idoso pode continuar na casa dele, se ele tem onde morar, e nós providenciamos os recursos que ele precisa para continuar lá”, contou uma das fundadoras da associação Maria Aparecida de Souza Rosa.
Além da moradia, a associação acompanha nas questões de saúde e também no processo de aquisição de benefícios garantidos pelo Estatuto do Idoso.
“Praticamente, todos hoje já recebem o benefício. Quem não tinha recurso nenhum conseguiu e a parte de saúde também. Alguns estavam bem debilitados e já tiveram uma melhora nesse quadro”, disse a assistente social Maria Aparecida.
Atualmente, são 10 idosos assistidos. Três compartilham a moradia no bairro Jardim Satélite, outros três no Jordanópolis, um casal no bairro Tupã e dois no Núcleo Santa Cruz.
Com a melhora da situação, alguns idosos procuram outras formas de morar. Outros se organizam e passam a arcar com as despesas da casa. “Fazemos uma reunião com eles todo o final de semana, para ver se existe alguma dificuldade na convivência, nas relações. Ou ainda se tem alguma outra coisa em que eles precisam do nosso suporte, mas procuramos dar essa atenção sem interferir muito no dia a dia deles”, falou Maria Aparecida.

Próximo passo
A associação Envelhe-Ser pretende ir além da assistência em relação à moradia. O próximo passo é atuar na capacitação e formação de cuidadores de idosos.
“A ideia é a gente ser um elo entre a família e o cuidador, porque às vezes a família quer contratar alguém, mas não sabe quem e tem uma série de inseguranças. E às vezes, o cuidador também vai para um ambiente familiar totalmente comprometido, com uma série de dificuldades e ele fica sem respaldo nenhum. Então a ideia é, não só formar, capacitar, mas encaminhar e acompanhar e ser esse suporte tanto para a família quanto para o cuidador. O cuidador sabe aonde ele pode ir para falar das suas dificuldades e o familiar também”.
Essa questão já é acompanhada na moradia compartilhada de Jordanópolis. Duas, das três idosas são irmãs e possuem a DA (Doença de Alzheimer), um dos tipos de demência. As irmãs recebem a atenção de uma cuidadora no período da manhã e tarde, outra no período da noite e uma terceira aos finais de semana.
“Embora elas não tenham sido formadas por nós, a gente tenta ver se já fizeram algum curso. Duas prestaram um curso pela Cruz Vermelha e outra pessoa está fazendo, atualmente, um curso em São Paulo. Fazemos esse acompanhamento com elas e damos essa retaguarda o tempo todo”, disse Maria Aparecida.
Os interessados em contribuir com a causa da Associação Envelhe-Ser devem entrar em contato com a entidade, ou comparecer nas reuniões semanais para conhecer de perto o trabalho desenvolvido, assim como esclarecer dúvidas e saber das principais necessidades do grupo.

SERVIÇOS
Associação Envelhe-Ser
Rua Horácio Barioni, 416, Bairro Alves Dias, São Bernardo do Campo, SP
Tel: (11) 4109-1123
E-mail: envelhe.ser@gmail.com
http://associacaoenvelhe-ser.blogspot.com
Reuniões da Associação Envelhe-Ser:
Dia: Todas as sextas-feiras
Horário: 18h30
Local: Travessa Municipal, 86, ap. 12- bloco F, centro, São Bernardo do Campo, SP

Por Camilla Valadão


SE CUIDA! CUIDADOR!

Atividade afeta saúde e qualidade de vida quando sobrecarregada
Ele sempre está atento aos horários de remédios e alimentação, no auxílio à locomoção para evitar quedas ou a maneira de promover a auto-estima do idoso. Afinal, ele é um cuidador. Mas e quando se trata da própria saúde, o cuidador sabe se cuidar?
É muito comum que eles se esqueçam de preservar a própria saúde física e emocional por conta da rotina, e isso acaba levando a um dos principais problemas dessa atividade: a estafa do cuidador.
“Temos visto que os cuidadores estão falecendo antes que as próprias pessoas doentes. Elas são cuidadas por vários técnicos, mas os cuidadores se esquecem de ir ao médico, marcar consultas. Vão abandonando, vão se deixando de lado porque acham que têm que cuidar primeiro do outro”, explicou Sirley Okuda especializada em psicologia do envelhecimento.
O pensamento deve ser o oposto: o cuidador tem que ficar atento ao seu bem estar e a sua saúde, só assim terá condições de promover o bem estar do outro. Especialistas mostram que é possível alcançar esse objetivo com algumas orientações práticas:
• participar de grupos de apoio aos cuidadores para compartilhar experiências, conviver com outras pessoas, externar sentimentos e adquirir informações de cuidado e autocuidado. Geralmente são serviços gratuitos e de periodicidade mensal ou quinzenal;
O contato com outras pessoas que também exercem a tarefa traz uma sensação de identificação e de “não estar sozinho”, o que costuma ser positivo.
• revezar os cuidados com outros familiares ou contratar um cuidador para dividir as tarefas é importante para não ficar sobrecarregado;
É inevitável que o cuidador abdique de sua própria vida em função do idoso quando ele é o único disponível para cuidar. Isso pode se transformar em grande fonte de estresse e insatisfação.
• ter, ao menos, um dia na semana para descanso e lazer
• não abrir mão de atividades que lhe dão prazer (esportivas, culturais e religiosas)
• dispor de tempo para questões pessoais e familiares
• procurar ajuda profissional (psicológica, psquiátrica ou médica) dependendo dos sintomas apresentados. Estar atento a eles.

Por Camilla Valadão

EXERCÍCIOS FÍSICOS PARA OS IDOSOS?
Quem pensa que eles devem descansar por causa da idade, está enganado
Não é de hoje que ouvimos de médicos e especialistas a importância da atividade física para a nossa saúde. E em relação aos idosos, os benefícios também são evidentes. Afinal, a velhice pode ser muito difícil para aqueles que dizem “não” aos exercícios físicos.
De acordo com a fisioterapeuta Priscila de Campos Alves Frias, os idosos devem praticar exercícios físicos para evitar um dos principais problemas relacionados ao envelhecimento: a síndrome do imobilismo. “Devido às limitações comuns, causadas pelo avanço da idade, muitos idosos deixam de se movimentar e ficam ainda mais debilitados. Por essa razão, os exercícios físicos são recomendados tanto para um idoso saudável, quanto para aquele que possui alguma limitação específica”, explicou.
É importante lembrar que a atividade física não está relacionada apenas à prática de esportes e de exercícios realizados em academias de ginástica. Pequenas caminhadas e até mesmo atividades domésticas são alguns exercícios que também combatem o sedentarismo e contribuem com a qualidade de vida. Para os idosos, os alongamentos e os exercícios de fortalecimento muscular e de coordenação motora estão entre as atividades físicas mais recomendadas pelos especialistas. Mas não para por aí.
Segundo Priscila, a prática das atividades de vida diária também é muito importante para as pessoas de mais idade. “O idoso deve realizar tudo aquilo que ele ainda tem condição de fazer, ou seja, cozinhar, tomar banho ou trocar de roupa. Às vezes, devido o excesso de cuidado, a família impede que ele faça essas atividades, mas nós sempre procuramos mostrar que todas essas tarefas do dia a dia contribuem para a qualidade de vida do paciente”.
Por Aline Braz

ELE CAIU, E AGORA?

As quedas de idosos são as principais causadoras de acidentes na população com mais de 60 anos
Diante deste cenário, se torna cada vez mais necessária a prevenção, que pode ser realizada com medidas bem simples.
De acordo com a fisioterapeuta Priscila de Campos Alves Frias, para minimizar o risco iminente de quedas dos idosos, é importante seguir algumas recomendações, como evitar tapetes ou comprar aqueles antiderrapantes, aumentar o espaço de movimentação do idoso em todos os ambientes, tirando o excesso de móveis, e colocar corrimãos nos corredores da casa.
Mas talvez você se pergunte como devemos agir quando a prevenção não é o suficiente e o idoso sofre uma queda. Para esses casos, Priscila recomenda que a pessoa que for prestar socorro tenha muita tranquilidade para não deixar o idoso ainda mais nervoso. “A primeira coisa a se fazer é ficar calmo para conversar com ele, depois é importante ver se o idoso está respondendo, observar se há alguma região ferida e entrar em contato com algum serviço de emergência”, orientou.
Geralmente, junto com as quedas, vêm as lesões. As mais comuns são as fraturas, que ocorrem mais no quadril e no fêmur, por serem as regiões que sofrem o maior impacto quando o corpo bate no chão. “Quando o idoso fratura o quadril, ele geralmente passa por uma cirurgia para colocar a prótese que vai substituir o osso danificado. Nesses casos, o processo de recuperação é rápido porque o osso não vai ter de se consolidar. Agora, no caso de fraturas de fêmur, é necessária a imobilização do membro, o que torna o processo de recuperação bem mais demorado, principalmente no idoso que tem osteoporose. Então, aquilo que em uma criança se consolida em um mês, no idoso leva de 3 a 4 meses”.

CENTRO DIA FAMILIARES DE IDOSOS
aLternativa ao asilamento e preserva convivência com a família

Entrada da AFAI situada na Alameda dos Guatás no Planalto Paulista em São Paulo
Aos poucos, a tarefa de cuidar de idosos ganha visibilidade, muito por conta das estimativas de aumento dessa população nos próximos anos. Quem já exerce o papel de cuidador sabe, e quem entra nesse universo também descobre, que se trata de uma atividade com desafios diários a serem vencidos. Por isso, ter apoio de políticas públicas e instituições que se preocupem com o bem estar de idosos e cuidadores pode ser uma grande vantagem.
Há cinco anos a Associação dos Familiares e Amigos dos Idosos (AFAI) procura, justamente, oferecer apoio a idosos semidependentes e seus familiares. O centro dia, localizado na cidade de São Paulo, surgiu da necessidade de um espaço que acolhesse e cuidasse de pessoas acima de 60 anos com limitações para a execução de atividades de vida diária e indícios de demência. Foi fundado por um grupo de famílias com casos que atendem esse perfil.
O dia na AFAI começa às sete da manhã e vai até as seis da tarde. A casa atende uma média de 14 a 16 idosos por dia, de segunda à sexta-feira e oferece atividades lúdicas como contar histórias, pintura, jogos e brincadeiras ministradas pelo grupo de cuidadoras da associação. A atividade voluntária de fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, psicólogos e geriatras abastece o atendimento do público na área da saúde.
O local também apresenta adaptações na estrutura física. Banheiros adaptados com barras de apoio, corrimão instalado nos corredores e rampas de acesso na entrada e fundos da casa facilitam a utilização do ambiente pelos idosos.
A filosofia da AFAI é ser uma alternativa ao asilamento do idoso que ainda tem boas condições de conviver em grupo. Outro objetivo é estimular e preservar a relação da família com o ente de mais idade, por isso a associação não funciona aos finais de semana.
O presidente da Associação dos Familiares e Amigos dos Idosos, Edelmar Ulrich conta que o importante é tentar garantir aos idosos o mínimo de qualidade de vida. “Nossa casa prima primeiro por um atendimento carinhoso, de amizade, de toque. Agora, a gente também não espera reabilitações. Temos que ter a compreensão de que eles já chegam aqui com todas as debilidades. Se houver ganhos, maravilha. Mas se não houver e a gente empatar, já estamos ganhando”, disse.
A mensalidade varia de R$ 480,00 a R$ 700,00 e depende da quantidade de dias que o idoso freqüenta a AFAI. A contribuição familiar é o que permite a manutenção do espaço e da equipe de cuidadoras, cozinheiras e faxineiras. “Se não houver essa contribuição, nós não pagamos as nossas contas e fecha a casa. Nós não temos outra maneira. Agora, o poder público não quer que se cobre, faça parceria. Ele banque, fiscalize, faça a sua parte. Mas não há essa possibilidade por enquanto”, explicou Edelmar. E completou, “falta muita coisa para que se faça em termos de políticas públicas e ajuda”.
Esse quadro já começa a mudar. Em 2009, a Secretaria Estadual de Assistência e Desenvolvimento Social (SEADS) lançou o projeto “Quero Vida”, um centro dia gratuito com capacidade para atender 50 idosos semidependentes com dificuldades no desenvolvimento da rotina diária. Esse projeto é uma das ações do Plano Estadual para a Pessoa Idosa – Futuridade lançado em 2008 pela Seads.
O intuito é auxiliar familiares que não têm condições de cuidar desses idosos em casa, principalmente, por falta de tempo por conta da jornada de trabalho e estudos. O centro dia acolhe o idoso durante o período integral oferecendo atividades recreativas, de cultura e lazer,e, no final do dia, ele retorna para sua residência.
A coordenadora do Plano Futuridade, Valdenira Vieira, explica que o projeto funciona em parceria com o município. “A nossa equipe capacita, propicia a utilização da rede no âmbito municipal e a execução e manutenção é feita pelo município”, disse.
Dos municípios que solicitaram a implantação do “Quero Vida”, 41 foram selecionados. “Foi feita uma avaliação técnica para ver se esse município tinha condição de gerir um programa desse, porque não é um programa muito barato uma vez que você dará um subsidío integral para esse idoso desde o café da manhã, o almoço às atividades diárias”, contou Valdenira.
A Secretaria Estadual de Assistência e Desenvolvimento Social repassa até 300 mil reais para a implantação, que pode ser ou para a obra ou para a compra de equipamentos. A previsão é de que, até o primeiro semestre de 2011, os 41 centros dia sejam implantados nos municípios de Agudos, Americana, Apiaí, Barretos, Bebedouro, Bocaina, Botucatu, Bragança Paulista, Capão Bonito, Capela do Alto, Capivari, Caraguatatuba, Dois Córregos, Dracena, Espírito Santo do Pinhal, Ibitinga, Ilha Solteira, Ilhabela, Itapetininga, Itapeva, Itatiba, Itatinga, Itu, Jaguariúna, Jaú, Leme, Marília, Miguelópolis, Mogi Mirim, Monte Alto, Olímpia, Osvaldo Cruz, Paranapanema, Poá, Pompéia, Ribeirão Preto, Santo Antônio da Alegria, Socorro, Vinhedo, Votorantim e Votuporanga.
“Mas são 645 municípios no Estado de São Paulo. A idéia é que, com o passar do tempo, o “Quero Vida” seja implantado em 100% dos nossos municípios”, concluiu a coordenadora do Plano Estadual para a Pessoa Idosa – Futuridade, Valdenira Vieira.

SERVIÇOS

AFAI – Associação dos Familiares e Amigos dos Idosos
Alameda dos Guatás, 1.101 – Planalto Paulista, São Paulo
Tel: (11) 5072-0261
E-mail: afaicdi@hotmail.com
Site: http://www.centrodia.org.br/

SEADS – Secretaria Estadual de Assistência e Desenvolvimento Social
Rua Bela Cintra, 1.032 - Cerqueira César, São Paulo
Tel: (11) 2763-8000
Site: http://www.desenvolvimentosocial.sp.gov.br/
Por Camilla Valadão

ENVELHECER É NORMAL

Preconceito sobre “ser velho” afasta idosos de gerontólogos e geriatras
Quando aparecer uma dorzinha aqui, outra ali ou a pressão subir, o idoso deve procurar um clínico geral ou um médico da área que ele precisar, certo? Errado! Muitos problemas como esses e outros que surgem na terceira idade podem começar a ser resolvidos por um geriatra e um gerontólogo.
Para Ana Lúcia Marques de Souza, mestre em gerontologia, os idosos não admitem se enxergarem como velhos e por isso, não pensam em consultar especialistas. “O primeiro passo deveria ser procurar um geriatra, que organiza as prescrições médicas necessárias, e um gerontólogo, que faz uma avaliação mais social do caso e pode ajudar a encaminhar a pessoa para o psicólogo ou o fisioterapeuta, por exemplo. Mas não é isso o que acontece, infelizmente. Os idosos não têm a visão de que o envelhecimento é um processo natural da vida. Eles acham que velho é só o outro”, destacou.
Outro motivo pela baixa procura desses profissionais pode ser a falta de informação. Segundo Ana Lúcia, como as duas profissões ainda são relativamente novas, idosos e cuidadores ainda as desconhecem ou não sabem qual é a sua função. “Esse campo precisa ser mais explorado. Por falta de informação, as pessoas não sabem, por exemplo, que geriatras e gerontólogos não trabalham somente com doentes, mas também com idosos ativos, ajudando-os a reencontrar alguma atividade que dê lhes prazer”, explicou.
Uma das consequências da falta de informação é a desconfiança por parte dos familiares diante das orientações passadas pelo geriatra ou pelo gerontólogo responsável por acompanhar o caso do idoso. “A família , geralmente, não acredita que podemos ajudar a cuidar. Tudo o que falamos é questionado. Mas acho que a culpa também é um pouco dos profissionais, que ainda realizam um trabalho muito tímido, em vez de deixar claro o que fazem”, finalizou Ana Lúcia, que também é psicóloga e técnica em enfermagem.


QUAL A DIFERANÇA DO TRABALHO DO GERONTÓLOGO E DO GERIATRA?
Como ainda são profissões relativamente novas perto de outras, é comum a maioria das pessoas não saber exatamente qual trabalho desenvolvem os especialistas que atuam na área de saúde da população idosa. Como consequência, surge a seguinte pergunta: qual a diferença entre o gerontólogo e o geriatra?
A opinião de Ana Lúcia Marques de Souza, mestre em gerontologia, é um bom passo inicial para entender as atividades realizadas por cada profissional. “Arrisco dizer que a geriatria é uma disciplina da gerontologia”, avaliou.
O texto não é equivocado. Os geriatras cuidam somente das doenças – prevenção e tratamento – que atingem os idosos, avaliando aspectos físicos e biológicos. Os gerontólogos, no entanto, precisam ter uma visão mais ampla sobre os aspectos sociais que podem ser causa de patologias na fase do envelhecimento.
Por esse motivo, o gerontólogo gerencia serviços para a terceira idade, como programas de atenção social e de saúde e também intervenções educacionais. No caso dos idosos ativos, ajuda na prevenção de doenças, indicação de atividades físicas e alimentação saudável. Em se tratando de idosos doentes, a principal frente de atuação do especialista é dar suporte emocional aos cuidadores e ajudá-los a organizar melhor as tarefas do dia a dia.
Por Bianca Daga

PARA SER CUIDADOR:
Atenção a idosos exige paciência, diálogo e respeito para boa convivência

Encontro de cuidadores é espaço de debate sobre a tarefa de cuidar
O cuidador é aquele que se dedica a proporcionar o bem-estar físico e emocional do idoso. Para isso, auxilia o assistido nas atividades básicas de vida diária (vestir e despir, alimentar-se, banho, higiene pessoal, andar, ter continência, usar o banheiro e arrumar-se) e também nas atividades instrumentais de vida diária (arrumar a casa, lavar a roupa, utilizar meios de transporte, manipular medicamentos, realizar compras, tarefas domésticas leves e pesadas, utilizar o telefone, preparar refeições e cuidar das próprias finanças).
Também é o cuidador que lida com mudanças ou distúrbios de comportamento como inquietude (fenômeno em que o idoso anda de um lado para outro, sem um objetivo claro ou demonstração de cansaço conhecido por vagância ou perambulação), alucinações (falsa impressão de ver ou ouvir coisas que outras pessoas não vêem ou ouvem) e delírios (falsa percepção de estar sendo roubado e/ou perseguido por pessoas estranhas ou membros da família, desconhecimento de pessoas próximas e do próprio local em que vive entre outros, comum em casos de demência). Tais características podem estar relacionadas a quadros de infecção, desidratação, efeitos colaterais de medicamentos ou mesmo serem sintomas de doenças específicas.
Essa atividade pode ser realizada no âmbito familiar, ou seja, o cuidador possui laços de parentesco com o idoso e exerce a função sem remuneração ou reconhecimento formal de emprego. É o chamado cuidador familiar. Ou ainda ela pode ser exercida no contexto empregatício em que o cuidador é contratado e financeiramente remunerado para a prestação de serviços. É o chamado cuidador formal ou profissional.
Formal ou informal, a tarefa de cuidar exige características que podem influenciar a qualidade do trabalho prestado tanto para o cuidador quanto para o idoso. Por isso, é importante estar atento a elas.
O primeiro passo para exercer cuidados eficientes é estabelecer uma boa relação com o idoso. Para alcançar esse objetivo, o respeito e a empatia são fundamentais. No caso do cuidador familiar, a relação pré-estabelecida com esse ente é que irá determinar o convívio e a realização das atividades. O cuidador formal tem que conquistar essa empatia aos poucos. Gostar de trabalhar com idosos é essencial.
O diálogo é outra ferramenta que pode proporcionar uma relação saudável. Muitas vezes, cuidador e idoso sentem-se incompreendidos e traduzir as coisas que cada um pensa, sente e quer pode facilitar a relação. “Essas coisas precisam ser conversadas, mas de forma natural e com muito afeto. Porque se você fala isso com ansiedade e angústia, fica agressivo”, explicou a psicóloga especializada em gerontologia Clara Nakagawa.
A informação também é importante aliada do cuidador. Procurar entender a fundo a limitação ou doença que acomete o idoso, conhecer técnicas e dicas de especialistas sobre as melhores formas de cuidado proporciona maior segurança e domínio na hora de executar as tarefas. Esse conhecimento influencia na forma de persuasão com o idoso, por exemplo, o que também facilita a relação entre ambos.
Cultivar o diálogo, ser criativo, preservar a autonomia e respeitar a privacidade do idoso são deveres de quem exerce a atividade, segundo Luciane Corrêa Miranda, psicóloga e colunista do site cuidar de idosos (www.cuidardeidosos.com.br). Ela aponta ainda os principais aspectos necessários para ser cuidador:
 ter constante paciência;
 disponibilidade para repetir as coisas várias vezes seguidas;
 ter introjetada a ideia de que muitas reações do idoso são características de doença, e portanto, não se trata de agressão direcionada ou perseguição;
 disponibilidade para, em alguns momentos, trabalhar sem a ajuda de outras pessoas;
 saber lidar com a dependência do outro e a finitude da vida;
 saber gerenciar bem sua vida profissional e pessoal;
 estar preparado para enfrentar situações de sobrecarga física e emocional e ter condições de reverter esta situação, mesmo que para isto seja necessário buscar ajuda profissional.
Por Camilla Valadão

POR QUE OS IDOSOS PREFEREM DOCES E NÃO QUEREM ÁGUA?

Durante o envelhecimento, a língua perde sensibilidade para os sabores salgados e também a sensação de sede
Quem cuida de pais ou avós com certa idade, sejam eles ativos ou doentes, sabe que preparar ou oferecer comidas que os agrade não é uma tarefa das mais simples. Se você já passou por essa experiência, deve ter percebido que os idosos geralmente não aceitam qualquer alimento como massas e carnes, pelo contrário, têm preferência por doces.
Segundo a nutricionista Maria Aquimara Zambone, responsável pelo ambulatório de geriatria do Hospital das Clínicas, essa mudança no hábito alimentar acontece porque na fase do envelhecimento, não temos mais sensibilidade para alguns sabores. “Quando chegamos na terceira idade, nossas papilas gustativas vão perdendo a função, e as que ficam mais ativas são as que reconhecem o doce. Já as do salgado ficam inativas”, explicou.
No entanto, os alimentos com açúcares não têm todas as vitaminas e nutrientes necessários para evitar que o idoso fique desnutrido. Por isso, a solução é seguir algumas dicas. “Quando o idoso não aceita nenhum tipo de comida salgada, é preciso oferecer alimentos doces que contenham as mesmas vitaminas como leite, frutas, mingau e ovo em forma de gemada ”, recomendou a profissional.
Além da desnutrição, outro risco comum entre os idosos é a desidratação. “Eles perdem a sensibilidade para o ‘sentir sede’. Por isso, acabam não bebendo a quantidade de água que seria suficiente durante o dia. Nesse caso, é importante descobrir do que eles gostam e oferecer alternativas como sucos e chás”, disse a nutricionista Elci Almeida Fernandes.
Por Bianca Daga

ASSISTENCIA SOCIAL E MORADIA ACESSÍVEL EM UM MESMO LUGAR.

Vila no município de São Paulo oferece 145 unidades destinadas ao idoso

Vila dos Idosos no bairro Pari em São Paulo
Pensar no idoso é falar em benefícios e assistência social que garantam qualidade e vida digna. Mas essa lógica se amplia cada vez mais para questões de estrutura física e acessibilidade em moradias para esse público. O município e Estado de São Paulo já pensam assim.
Em agosto de 2007 um complexo com 145 unidades habitacionais foi inaugurado no número 840 da Avenida Carlos de Campos no bairro Pari, em São Paulo. O Conjunto Habitacional Pari I Armando Amadeu -Vila dos Idosos, elaborado dentro do programa de Locação Social da SEHAB (Secretaria Municipal de Habitação de São Paulo), tinha como principal objetivo oferecer moradia à população idosa de baixa renda, que recebesse de 1 a 3 salários mínimos.
O projeto surgiu por conta da demanda popular encabeçada pelo GARMIC (Grupo de Articulação de Moradia do Idoso) para que se construísse habitação popular, especificamente, para esse público. A prefeitura disponibilizou a área. Da elaboração à finalização da Vila, passou-se quase uma década.
Uma parte das moradias foi destinada para idosos removidos de áreas de risco, moradias com perigo de desmoronamento e inundação. A outra parte, para pessoas indicadas pelo próprio GARMIC.
Gerenciada pela prefeitura, a Vila tem regras simples e claras. Os apartamentos não são vendidos, mas alugados. Os moradores pagam de 10% a 15% da renda familiar que, na maioria dos casos, é de um salário mínimo. O gasto mensal com aluguel, condomínio, água e luz, geralmente, não ultrapassa R$ 160,00 por locação. Só é permitido um acompanhante por idoso, que não precisa, necessariamente, fazer parte dessa mesma faixa etária. É necessário que o habitante principal seja independente, conseguindo se manter e cuidar sem grandes dificuldades.
No período de desenvolvimento da Vila dos Idosos, o arquiteto João Alberto Cantero foi coordenador de edificações, gerente de projetos e superintendente de obras da COHAB (Companhia Metropolitana de Habitação) e acompanhou todo o processo de elaboração e construção. “Houve uma preocupação em não se transformar o conjunto em uma casa de repouso. Ela não é uma casa de repouso, não é um posto de saúde, não é um hospital. O que se buscou fazer é que eles tivessem a vida mais normal possível”, explicou.
Um total de 149 pessoas mora em unidades adaptadas ou adaptáveis às necessidades específicas dessa fase da vida. São 48 apartamentos de um dormitório, 72 quitinetes, 16 quitinetes adaptadas para deficientes no andar térreo e nove apartamentos de um dormitório adaptados para deficientes.
Barras de segurança, assento especial para o vaso sanitário e torneiras especiais foram instaladas nos imóveis adaptados. As outras unidades foram desenhadas com dimensões que permitem serem adaptadas.
Banheiros são maiores e mais largos. Possibilitam um giro com cadeira de rodas e a utilização por usuários com muletas e têm instalação de barras de apoio. Portas e passagens também mais largas para facilitar o acesso de andadores e outros equipamentos. Todas as dimensões da residência foram pensadas para um andar tranqüilo e livre de tropeços.
Os andares são servidos por elevador e o idoso consegue chegar a qualquer ambiente sem dificuldades de acesso. Também são largos para comportarem a locomoção com aqueles mesmos aparelhos: cadeira de rodas, andador, muletas, entre outros. As áreas são planas, sem degraus ou obstáculos. As escadas de emergência são equipadas com corrimões dos dois lados.
A demanda é grande e a lista de espera, na época da inauguração, estava em torno de 5 mil idosos. A fila só anda, geralmente, em casos de óbito do locatário.
A equipe social que assiste aos idosos residentes do complexo organiza eventos em datas comemorativas como Dia das Mães, Festa Junina, Dia dos Pais, aniversários do mês, além de atividades recreativas como oficinas de costura.
O PAI (Programa de Acompanhante de Idosos) da Associação Saúde da Família da Secretaria Municipal de Saúde da Cidade de São Paulo está diretamente ligado com a UBS (Unidade Básica de Saúde) do bairro Pari e fez parceria com a Vila. Disponibiliza o atendimento gratuito de acompanhantes para os idosos que, eventualmente, necessitam de auxílio em alguma atividade diária como limpeza do apartamento, alimentação, idas ao médico, banco e super mercado.
Além das acompanhantes, o Programa conta com um coordenador assistente social, enfermeiro, médico e auxiliar de enfermagem que são acionados em casos de necessidades mais específicas.
A SEHAB pretende repetir a experiência da Vila dos Idosos em um dos 53 prédios que serão desapropriados no centro da cidade, pois foram alvo de Decreto de Interesse Social. Mas ainda não há previsão de quando o projeto poderá ser levado adiante.

VILA DIGNIDADE

A SH (Secretaria Estadual da Habitação), a CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo), a SEADS (Secretaria Estadual de Assistência e Desenvolvimento Social), a SEP (Secretaria Estadual de Economia e Planejamento), a SEC (Secretaria Estadual da Cultura), o FUSSESP (Fundo de Solidariedade e Desenvolvimento Social e Cultural do Estado de São Paulo) e as prefeituras dos municípios paulistas estabeleceram parceria para a criação do programa habitacional “Vila Dignidade”.
A primeira unidade foi inaugurada em Avaré na Rua João Manuel Fernandes, s/nº no bairro de Santa Cruz. Há a previsão de lançamentos, ainda em 2010, nos municípios de Caraguatatuba, Araraquara, Ribeirão Preto, Presidente Prudente, São José do Rio Preto e Itapeva.
Cada Vila é composta por até 24 moradias com sala, cozinha, um dormitório, banheiro, área de serviço e pequena área externa nos fundos que pode ser espaço para horta ou jardim. As residências são destinadas ao idoso que não tem família, sofreu algum tipo de violência, ou vive em situação de risco social ou pessoal. O morador deve, ainda, preencher outros requisitos como possuir rendimento mensal de até dois salários mínimos, residir no município há, pelo menos, dois anos e ser independente para a realização das atividades de vida diária.
A moradia é gratuita e obedece ao conceito de locação social. Ela pertence à prefeitura da cidade em que a Vila está inserida e é utilizada pelo idoso até o falecimento ou situações que o desenquadrem do perfil do programa habitacional. Com a desocupação da unidade, outro idoso preenche a vaga.
“A regra permite sim até um acompanhante por idoso, desde que ele também se enquadre em todas as regras de atendimento da renda (até dois salários mínimos), da idade (60 anos ou mais), da situação social que foi definida como o foco do Programa”, explicou a gestora do Programa Vila Dignidade na CDHU, Mariana de Sylos Rudge.
As residências são todas adequadas de acordo com o conceito do Desenho Universal que garante segurança e acessibilidade para os moradores. Barras de proteção no banheiro, piso antiderrapante, rampas, pias e vasos sanitários em altura adequada, portas e corredores mais largos, interruptores em quantidade e altura ideais são alguns dos recursos constituintes do projeto. Além disso, a Vila conta com horta comunitária, pomar e equipamentos de fisioterapia instalados ao ar livre.
“A intenção é de que a Vila esteja integrada com o entorno urbano onde elas estão inseridas. Os benefícios internos de conforto e lazer são exclusivos dos moradores, mas o condomínio não é auto suficiente. A ideia é que o idoso saia dali para usar os serviços urbanos do entorno de uma maneira normal”, disse o arquiteto de Gerência e Desenvolvimento de Produtos da CDHU Luis Gustavo Della Noce.
A SH (Secretaria da Habitação) repassa os recursos para a CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo). A CDHU elabora os projetos e constrói os complexos. A SEADS (Secretaria Estadual de Assistência e Desenvolvimento Social) aprova, assessora e acompanha o projeto social da prefeitura. A Prefeitura seleciona os beneficiários e realiza a gestão social do Programa Vila Dignidade.
O núcleo de assistência social de cada município é responsável pela divulgação do projeto e abertura das inscrições em conjunto com a junção de demandas existentes nos vários setores da cidade (saúde, delegacia do idoso, Conselho Municipal do Idoso, Ministério Público, entre outros). Após a triagem inicial a definição dos moradores é concluída a partir das visitas domiciliares e análises de casos.
Por ser um programa de moradia assistida, o objetivo também é que os idosos sejam acompanhados por assistentes sociais em atividades que promovam a cultura, lazer e entretenimento.
De acordo com a SEADS, Botucatu, Jaú, Jundiaí, Laranjal Paulista, Mogi das Cruzes, Mogi Mirim, Sorocaba, Tupã – Limeira e Itapetininga são os municípios com lançamentos da Vila Dignidade previstos para 2011. A Vila de Ituverava ainda está em processo de negociação.
Entre 2011 e 2012, estão listados para receber o complexo habitacional os municípios de Bauru, Cotia, Cubatão, Ilha Solteira, Marilía, Ourinhos, Santo André, Santos, São João da Boa Vista, São José do Rio Pardo, São José dos Campos e São Roque. Até 2012 serão 30 Vilas Dignidades, totalizando 678 moradias.
De acordo com as Estimativas Populacionais 2008 da Fundação Seade, o Estado de São Paulo conta com 4.328.422 idosos, o que representa 10,52% da população total. O Censo Demográfico 2000 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostra que dos 1.954.473 idosos responsáveis pelo domicílio de residência (59,7%), 828.113 possuem renda mensal de até 2 salários mínimos e 378.486 moram sozinhos, dois dos requisitos avaliados na seleção de moradores da Vila Dignidade.
“Não temos cadastro estadual, cada município inscrito no Programa consolida uma lista a partir dos cadastros setoriais, da assistência, saúde, segurança, conselho municipal do idoso entre outros órgãos”, informou Mariana Rudge.

Experiências no Rio e Paraná
A primeira Vila da Melhor Idade está sendo construída no bairro Santa Cruz na capital do Rio de Janeiro e a estimativa é de que fique pronta até o final deste ano. São 30 unidades habitacionais, cada uma com dois quartos, sala, cozinha e banheiro destinadas a idosos carentes, independentes para a realização de atividades diárias e com renda de até três salários mínimos. Os gastos devem se resumir a contas de água e luz e condomínio, se houver. A acessibilidade dos moradores é garantida com a instalação de rampas de acesso, barras de apoio nos cômodos, corrimões, piso antiderrapante e banco sob o chuveiro para um banho mais seguro.
O Centro de Convivência da Vila de 200 m2 vai abrigar uma cozinha industrial, sala de TV, refeitório, área de serviço e varanda para a realização de atividades recreativas, culturais e de lazer. O complexo habitacional contará ainda com uma horta comunitária para o cultivo de alimentos e com a “casa do cuidador” que disponibiliza ajuda especializada e permanente aos idosos.
Para atender os 14 mil idosos cadastrados na Secretaria de Estado de Habitação é preciso que o programa se estenda por todo o Estado. Os próximos municípios listados para receber a Vila da Melhor Idade são Volta Redonda e Conceição de Macabu. Após a conclusão do desenvolvimento dos projetos pela SH, as obras serão licitadas. A previsão é de que a empreiteira seja selecionada no início de 2011 para dar início às construções.
O município de Maringá no Paraná é o primeiro do Estado a elaborar um projeto habitacional também exclusivo para os idosos. O Condomínio Residencial do Idoso no Parque Residencial Cidade Nova foi lançado no mês de setembro e é formado por 40 casas individuais com sala, cozinha, quarto, banheiro, lavanderia e varanda destinadas a pessoas de baixa renda e em situação de vulnerabilidade social com 60 anos ou mais.
Outros requisitos para compor o perfil são: ter renda de até três salários mínimos, não possuir qualquer imóvel em todo o território nacional, não ter sido beneficiado por Programa Habitacional anterior, residir no município há dois anos e ser independente para as atividades diárias.
A residência é cedida ao idoso em regime de permissão de uso. Se paga uma taxa de utilização, no valor de 20% do salário mínimo vigente, sendo 10% para o fundo da habitação e os outros 10% para a manutenção do condomínio. O pagamento de água, luz e gás é de responsabilidade do próprio morador.
Algumas soluções arquitetônicas garantem maior acessibilidade e segurança aos moradores como portas mais amplas, piso antiderrapante, barras de apoio e rampas. “Temos fisioterapeuta duas vezes por semana e professora de educação física que acompanha os alongamentos e uso da Academia da Terceira Idade no local”, acrescentou a secretária municipal de assistência social e cidadania de Maringá Rosa Maria Marques de Souza.
Serviço:
Saiba como participar dos programas habitacionais
Vila dos Idosos (SP): Os interessados devem se inscrever no site:
http://demanda.cohab.sp.gov.br/demanda2/instrucoes_.htm
Vila Dignidade (SP): Os interessados devem procurar as prefeituras dos municípios que irão receber o programa para acessá-lo.
Vila da Melhor Idade (RJ): Para se inscrever, acesse o sistema de cadastro por habitação da Cehab (Companhia Estadual de Habitação do Rio de Janeiro) no site: http://www.cehab.rj.gov.br/demanda/. Caso haja dúvidas durante a inscrição, entrar em contato pelos telefones (21) 2333-0103 ou (21) 2333-0104.
Condomínio Residencial do Idoso (PR): As vagas já foram preenchidas e não há previsão de abertura de novas inscrições ou cadastros. Para mais informações, entre em contato com a Secretaria de Habitação de Maringá pelos telefones (44) 3221-1288 ou 3221-2315.
Por Camilla Valadão

TERAPIA OCUPACIONAL: IDOSOS DE VOLTA Á VIDA

Você já ouviu falar em Terapia Ocupacional? A especialidade da área da Saúde trabalha com a aplicação de atividades terapêuticas
O trabalho desenvolvido com a terapia é direcionado, na maioria das vezes, aos idosos que possuem doenças como alzheimer, parkinson, AVC, depressão, esquizofrenia e síndrome do pânico. “Nós realizamos o trabalho em cima de um vínculo afetivo e de acordo com as necessidades desse idoso, que às vezes pode ser uma simples escuta. Mas sempre buscamos estimular a memória, a concentração, o raciocínio, a coordenação motora e a autonomia do paciente, para que doenças como o alzheimer, por exemplo, avancem o menos possível”, explicou a terapeuta ocupacional Flávia Caselle Hennies.
A terapia voltada para o idoso pode ser realizada de várias formas. As atividades mais comuns envolvem exercícios de consciência corporal como levar o garfo à boca e pegar um copo, por exemplo, além de jogos e oficinas de artesanato. “Todo o trabalho realizado tem um objetivo. Para os idosos com déficit de atenção e de memória, nós desenvolvemos um conjunto de jogos como “stop” e “telefone sem fio”, que estimulam a mente. Mas já para aqueles idosos que têm os membros superiores mais debilitados, nós trabalhamos com o artesanato, porque privilegia a coordenação motora desses pacientes. Então as atividades variam muito de acordo com a necessidade de cada idoso”.
Mas se engana quem pensa que esse tipo de terapia é recomendado apenas para os idosos que possuem alguma doença. Essas atividades, quando desempenhadas por um idoso saudável, ajudam na prevenção de doenças demenciais, estimulam a independência do paciente e contribuem para sua qualidade de vida.
Por Aline Braz

sábado, 20 de novembro de 2010

DESAFIO GERONTOLÓGICO

Ouvir, acolher, educar: nosso desafio gerontológico
Cada vez mais, nosso papel profissional irá equiparar-se ao do educador. Se eu tratar de você, é para hoje. Se eu ensinar algo a você, é para toda a vida. Ensinar, informar, orientar: familiares e cuidadores de idosos, que estejam em domicílios ou em instituições de longa permanência para idosos, tornou-se o ponto de partida, do cuidar gerontológico. Aliado a isso, um componente essencial para o sucesso no contexto da área da saúde, consiste em ouvir o idoso, sua família, sua história de vida.

A maneira como acolhemos os idosos, falamos com eles, os tocamos e ouvimos tem muito impacto sobre a saúde, ou até mais que os conhecimentos e habilidades adquiridos durante nosso treinamento profissional.

É preciso que tenhamos um olhar sensível em nossos atendimentos diários, independente da área de atuação. É reconhecer que faço parte de uma equipe multidisciplinar, que sou um profissional multidisciplinar! Para qual, faz-se necessário “viver esfericamente em várias direções.” Direções essas, que me faz querer e estar: Disposto, Determinado, Decidido para o cuidar gerontológico. É ver e ir além, do simples saber e aplicação da técnica.

O que saberemos da vida, enquanto não soubermos o que significa envelhecer? Envelhecer significa: com os anos entrar nos anos, para conhecer o tempo e caminhar com o tempo, estar no tempo e também contra o tempo. Envelhecer significa ir e passar, mudar sem perder a identidade, um pequeno pedaço de experiência projetado sempre de novo sobre um grande pedaço de esperança.

Claudia Soares dos Santos – fisioterapeuta e gerontóloga

claudiasantos.fst@gmail

LINDO!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Paulo, Carta aos Coríntios
Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos

e não tivesse o dom de cuidar

seria como o metal que soa ou como o sino que tine.

E ainda que tivesse o dom da profecia

e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência,

e ainda que tivesse toda a fé,

de maneira tal que transportasse os montes,

e não tivesse o dom de cuidar, nada seria.

E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres,

e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado,

se não tivesse o dom de cuidar,

nada disso me aproveitaria.




O cuidado é paciente, é benigno; o cuidado não é invejoso, não trata com leviandade,

não se ensoberbece, não se porta com indecência,

não busca os seus interesses, não se irrita,

não suspeita mal, não folga com a injustiça,

mas folga com a verdade.

Tudo tolera, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.

Cuidar nunca falha.




Havendo profecias, serão aniquiladas; havendo línguas, cessarão;

havendo ciência, desaparecerá;

porque, em parte conhecemos, e em parte profetizamos;

mas quando vier o que é perfeito,

então o que o é em parte será aniquilado.




Quando eu era menino, falava como menino,

sentia como menino, discorria como menino,

mas logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino.

Porque agora vemos por espelho em enigma,

mas então veremos face a face;

agora conheço em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido.




Agora, pois, permanecem a fé,

a esperança e o cuidar com amor, estes três;

mas o maior destes é cuidar com amor!




Adaptação da Primeira Carta de Paulo ao Coríntios, Cap. 13.
Enquete

A profissão de cuidador de idosos ainda não foi votada pelo Congresso Nacional. Você acha que o cuidador de idosos deveria ser uma profissão reconhecida por lei federal?

Sim! Pois haveria mais direitos trabalhistas e um salário da classe. (87%, 124 Votos)Não! Deveria ser só uma ocupação, como empregada doméstica. (8%, 11 Votos)Não tenho opinião formada sobre esta questão. (5%, 8 Votos)

HISTORIAS DE UM CUIDADOR - CAPÍTULO 2

Dona Cida
Continuação – Leia o capítulo 1

“De volta a nossa casa depois de dois dias no hospital, tentávamos lidar com um mundo que ruíra ao nosso redor.

Por mais que tivéssemos lido algumas cartilhas e soubéssemos algo sobre a forma como a doença de Alzheimer evoluiria em minha mãe, absolutamente nada poderia nos preparar para o que veio: do dia para à noite, minha mãe não andava, não articulava corretamente as frases, não nos reconhecia, tinha visões e nos agredia. Como é que uma pessoa que acorda em um dia dando bom dia e contando do sonho que teve pode simplesmente terminar o dia como uma criança pequena ? Era a pergunta que nos fazíamos continuamente.

Apesar de, na época, estarmos amparados por um serviço de home care fornecido pelo plano de saúde no que dizia respeito a parte da recuperação dela, o tratamento do Alzheimer requeria um conhecimento que faltava nos profissionais que nos atendiam. Assim, recorremos ao geriatra que havia começado a atender minha mãe antes da sua queda no banheiro.

E foi ele quem salvou a nossa pátria: ele nos deu uma verdadeira aula sobre o tratamento de um portador de alzheimer e nossas funções como cuidadores, explicou que o “vislumbre” do estágio intermediário que minha mãe aparentava na época era a forma como o cérebro dela estava tentando se preservar para lidar com o trauma físico – e que ela deveria regredir a próximo do estágio anterior uma vez que o trauma fosse solucionado – nos explicou sobre as convulsões, falou sobre as alucinações e a diferença entre visões e delírios, prescreveu medicamentos para lidar com eles, coordenou o trabalho dos médicos do home care e até mesmo topou realizar uma consulta a domicílio para tentar entender porque minha mãe não voltava a andar, mesmo não sendo diagnosticado problema algum no hospital.

Para encurtar a história, o ocorrido foi o seguinte: os médicos que atenderam minha mãe após a queda não conseguiram enxergar duas fraturas no osso sacro, mesmo após várias radiografias e duas tomografias computadorizadas; eles assumiram que o comportamento completamente incomum da minha mãe fosse o estado natural dela e mandaram-na pra casa alegando que ela não andava por conta de uma provável contratura muscular que seria consequência da queda. Foi necessário que levássemos-na a outro hospital para uma ressonância magnética que sequer chegou a ser realizada pois os médicos diagnosticaram as suas fraturas através das radiografias originais!

De posse de um diagnóstico que, felizmente era menos grave do que poderia ter sido, passamos a nos preocupar com as mudanças que deveríamos fazer em nossa vida.

Depois de todos os filhos terem esgotado as férias e licenças disponíveis para se revezar com os cuidados para com minha mãe e, como era inviável financeiramente que qualquer um de nós deixássemos nossos empregos para passar a cuidar exclusivamente dela, tivemos que contratar uma empregada para ajudar meu pai a cuidar da minha mãe e realizar as tarefas domésticas.

Outro problema imediato era que dona Cida não conseguia se expressar normalmente; assim, passamos lentamente a aprender a interpretar sua expressão corporal para saber o que ela desejava. Aprendemos que quando ela começava a tirar a roupa, significava duas coisas: ou que estava com calor ou que queria ir ao banheiro; aprendemos também que ela ficava mais triste, depressiva quando anoitecia (o que viemos a saber depois que tem nome e sobrenome: efeito crepúsculo).

Descobrimos que a tão falada agressividade, razão de desespero de 10 em cada 10 cuidadores na grande maioria das vezes tinha uma causa justificada: ou era porque ela não conseguia se fazer entender e frutrava-se, ou por que havia razões físicas: dores, fome, sono, sede, calor, frio…

As noites também mostraram-se uma tortura sem igual: ela passava por crises de insônia frequentes, nos obrigando a estabelecer uma escala de vigília noturna. Assim, para cada duas noites de sono, passávamos praticamente uma noite inteira em claro, visto que o sono da minha mãe se consistia em cochilos de 20 minutos intercalados com uma a duas horas de agitação e dor, mesmo debaixo de potentes analgésicos para suas fraturas.

Isso começou a ter seu preço: logo as duas noites de sono não eram suficientes para nos recuperar da noite em claro e em pouco tempo, todos estávamos esgotados, com nossa capacidade de concentração comprometida e vivendo sobre constante estado de irritabilidade. Nossa produtividade no trabalho caiu e vivíamos em constante preocupação com minha mãe.

Além disso sofremos com o sentimento da perda: a dor que sentíamos era a mesma do falecimento de um ente querido. O pior aspecto pelo qual passamos com a doença de Alzheimer foi a mudança completa da personalidade da minha mãe. Era extremamente doloroso olhar para aquela mulher que um dia foi tão forte e tão segura de si e ver uma pessoa frágil, uma mulher que não reconhecíamos.

Com a sua recuperação das fraturas e o retorno da mobilidade, passamos a ter outro problema para nos preocupar: a perambulação e os riscos de outros acidentes domésticos. Como ela retornava lentamente ao estado que considerávamos normal de consciência, durante muitos meses foi como ter uma criança pequena em casa: havia a necessidade de vigília constante, produtos de limpeza e medicamentos precisaram ser escondidos, a ida ao banheiro tinha de ser supervisionada para que ela não saísse sem se limpar ou que ligasse o chuveiro e não tomasse banho. Por várias vezes escapamos de situações mais graves, como quando peguei minha mãe tentando escovar os dentes usando uma faquinha como escova e margarina como pasta de dente.

As noites tornaram-se piores: além de não dormir, ela vagava pelo quarto tentando “arrumá-lo”: arrastava os criados-mudos, abria as gavetas da cômoda e do guarda-roupas, tirava tudo que havia dentro, deitava-se novamente e levantava em seguida, tentava por horas abrir a porta do quarto, que passou a ser trancada.

Conforme a sua memória foi se organizando, vislumbrávamos como é complexa a mente do ser humano. Ela começou a cruzar lembranças antigas com histórias mais recentes e contava suas mesmas histórias com personagens e desfechos diferentes e, certa vez, nos surpreendeu a todos falando italiano, mesmo tendo aprendido apenas algumas palavras desse idioma quando era criança!

E assim, após cerca de seis meses, dona Cida chegou ao estágio mais próximo possível do que estava antes do acidente: tinha uma certa autonomia, mas precisava de supervisão constante. Estava andando bem e conseguia banhar-se, escovar os dentes e fazer suas necessidades apenas com uma pessoa supervisionando. Alimentava-se sozinha, mas não tinha discernimento para realizar tarefas domésticas, apesar de encorajarmos-na a fazer o que fosse possível para que ela se sentisse útil.

Mal sabíamos que isso era só o começo de nossa caminhada.”

Tags: Alzheimer, cuidador, cuidar, cuidar de idosos, familia, idoso.
Rodrigo Freitas
- rodrigo4t@gmail.com

HISTÓRIAS DE UM CUIDADOR CAPÍTULO 1

Histórias de um cuidador - Cap. 1
Minha vida mudou em 12 de março de 2005.

Oficialmente, esta é a data em que consideramos – eu, minhas irmãs, meu pai e nosso geriatra – como a data em que tivemos a confirmação efetiva de que dona Cida, minha mãe, era uma portadora da doença de alzheimer.

Claro que a dona Cida vinha dando sinais da doença muito antes disso. Lembro-me que, cerca de 3 ou 4 anos antes – a data exata me foge no momento – aconteceu o primeiro episódio que nos deixou realmente assustados, que foi quando ela se recuperava de uma cirurgia no quarto do hospital e, sem estar sob efeito de sedativo algum, disse sorridente para o enfermeiro ao vê-lo entrar para medicá-la:

- Olá! Foi meu marido que abriu o portão de casa para o senhor entrar ?

Deste dia em diante os episódios de confusão e os lapsos de memória tornaram-se mais frequentes. Primeiro, minha mãe começou a ter dificuldades espaço-temporais: não sabia mais identificar em qual dia da semana estava ou apontar qual o dia do mês era, mesmo com o auxílio de um calendário. O fato de que meu pai havia se aposentado e passou a ficar em casa, alterando completamente a rotina de décadas da dona Cida, só fez piorar sua confusão: em um dia, minha mãe era soberana absoluta em casa, no outro havia alguém dando ordens e intrometendo-se em suas tarefas.

Assim, pouco a pouco a doença foi afetando o cotidiano de minha mãe. Ocorreram mudanças súbitas de comportamento: rompeu com suas amigas de caminhada de anos, dizendo que elas só sabiam fofocar e que não queriam saber de andar. Pior, passou a evitá-las, mesmo quando elas vinham procurar minha mãe em casa apenas para jogar conversa fora.

Procuramos o primeiro geriatra; até então, não sabíamos nem pronunciar a palava alzheimer, quanto mais pensar que era isso o que ela tinha. Após a primeira consulta, minha mãe saiu completamente indignada, dizendo que nunca mais pisaria lá. O pobre médico não fez absolutamente nada que justificasse essa antipatia toda. Começaram a aparecer também os primeiros sinais de confusão em locais movimentados: a feira livre de quarta-feira, frequentada pela minha mãe há décadas, teve de ser acompanhada pelo meu pai depois de uma ocasião onde ela perdeu o dinheiro das compras e voltou pra casa de sacola vazia.

Preocupados com a progressão do seu quadro, tentamos uma segunda geriatra, que disse que minha mãe só precisava de umas “vitaminas” para melhorar o raciocínio. Não preciso dizer que nunca houve uma segunda consulta com ela.

Por volta desta época, em meados de 2003, os lapsos de memória começam a se tornar frequentes demais para serem ignorados. Pior, minha mãe tomara consciência deles, ficando deprimida; era extremamente comum encontrá-la chorando pelos cantos, dizendo que estava ficando louca. Triste ironia do destino! Nós passamos a vida toda escutando minha mãe dizer que o que mais temia era ficar gagá.

Sob a recomendação de mais um geriatra e a supervisão da minha irmã mais nova, que trabalha com crianças, colocamos minha mãe para lidar com jogos que estimulassem a memória. A tentativa foi completamente infrutífera pois, além das dificuldades que o Alzheimer já impunha, a total falta de educação formal da minha mãe (que hoje em dia seria considerada analfabeta funcional, visto que só sabia ler e escrever) impedia que ela progredisse nas atividades, além de deixá-la mais deprimida por não conseguir resolver os problemas após horas lidando com quebra-cabeças e jogos de memória.

Logo, outra caracteristica da doença apareceu: com os lapsos de memória roubando suas lembranças mais antigas, algumas histórias do passado que minha mãe frequentemente contava subitamente passaram a receber personagens novos e locações diferentes das originais. As mudanças não pararam por aí: dona Cida também começou a se atrapalhar com a rotina diária. Ela, que sempre foi tão zelosa com a arrumação da casa, começou a utilizar jogos de lençóis que não combinavam nas camas, além de colocar três ou quatro lençóis em uma mesma cama enquanto deixava o colchão nu em outra. Trocava sal por açúcar na cozinha e em um dia esqueceu de fritar as almôndegas, jogando as bolotas de carne crua dentro do molho.

As mudanças dela ocorriam com tanta velocidade que nos deixavam totalmente atordoados. Num dia ela estava perfeitamente bem, no dia seguinte começava a trocar o objetos e utensílios de lugar dentro de casa: achávamos xícaras dentro da geladeira, panelas no guarda-roupa e frequentemente a cozinha cheirava podre por dias, até que encontrássemos alguma comida pronta que ela havia guardado em um armário ao invés do refrigerador. Depois de um dia onde lavou os pratos com óleo ao invés de detergente, começamos a supervisioná-la nas tarefas domésticas. Até mesmo alterações no seu relógio biológico aconteceram: ela passou a ir para cama cada vez mais cedo. Se antes ela normalmente não dormia antes das 22 horas, começou a se recolher às 9, depois às 8, depois às 7 e, em uma ocasião, chegou a ir dormir às 18:00!

Ao que chegamos no fatídico 12 de março de 2005.

Nesta época, encontramos um excelente geriatra para nos ajudar. Estávamos no meio do processo de diagnóstico da doença de Alzheimer, aguardando os resultados os exames de imagem que minha mãe havia feito quando, naquela manhã de sábado, dona Cida convulsionou dentro do banheiro de casa e sofreu sua primeira queda.

Lembrando hoje, não sei como conseguimos chegar sãos ao final daquele dia. Foi simplesmente terrível: ao ouvir minha mãe gritar pouco antes de convulsionar, corri para o banheiro, chamei por ela e não ouvi resposta; arrombei a porta para encontrá-la caida no chão, com a cabeça sangrando e com a respiração alterada. A primeira coisa que me passou pela cabeça foi que minha mãe havia sofrido um AVC.

Ambulância, hospital, médicos mal preparados para lidar com um portador de Alzheimer fora de si, uma família desesperada. O sábado fatídico teve duas consequências imediatas: a primeira foi que a convulsão nos deu o diagnóstico definitivo da doença. Pesquisando depois, descobrimos que minha mãe havia se equadrado no seleto grupo de 2% dos portadores que sofrem convulsões no estágio inicial da doença.

A segunda – e pior delas – foi que as fraturas ocasionadas pela queda alteraram profundamente o quadro de Alzheimer da dona Cida. A dor pela qual passou e o trauma foram excessivos para que sua mente pudesse lidar de forma adequada e assim ela começou a apresentar características que só veríamos anos depois, ao ingressar no estágio intermediário da doença: dificuldades de fala, de deglutição e falta de controle das funções fisiológicas, entre outras. Minha mãe só voltou a uma condição próxima da que se encontrava antes da queda depois que as fraturas foram devidamente consolidadas.

E assim, praticamente do dia para a noite, ganhamos uma filha nova para cuidar.

(Continua…)

Rodrigo Freitas – Blog Quando pais viram filhos –
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Tenho pensado muito e ao contrário do que muitos julgam – nos últimos tempos, tenho vivido mais intensamente! Emoções, afetos, relacionamentos fraternos, amorosos, adquiriram novos aspectos e sob uma perspectiva mais abrangente, a vida ganhou um novo significado.

Meu olhar cinqüentenário encontra o olhar da criança que fui e me vê crescendo, adolescendo, amadurecendo, envelhecendo… meu pai, minha mãe… a vida seguindo seu curso… meus amores, meus medos, minhas alegrias e dores.

Olho para minha mãe e sinto a alegria de vê-la ainda viçosa no humor, na relativa autonomia que ainda possui – caminhando conosco e mantendo conservada a força de sua auto-estima. Entretanto, a comunicação verbal é cada vez mais vaga e imprecisa…

Percebo com clareza que o portador do Alzheimer é um guerreiro solitário travando uma luta constante e inglória contra o vazio do esquecimento… No mundo das palavras, seu campo de ação torna-se cada vez mais estreito e limitado para que possa dar vazão ao império dos sentidos. Já no universo do sentir a vida pulsa estrondosa e vibrante, sem subterfúgios nem fronteiras!

Assim, quando o repertório das palavras se evapora, voltamos a descobrir a forma única com a qual todo o universo se comunica: as linguagens do corpo, da alma, do coração! Aliás, pensando bem, não foi assim que nascemos – vazios de qualquer palavra, analfabetos de qualquer idioma?! E mais: também não ‘conhecíamos’ as pessoas que nos abordavam nem tínhamos idéia de nomes, lugares ou qualquer referência de tempo, de espaço… no entanto, o universo dos sentidos sempre funcionou com muita intensidade, não é mesmo?

Dessa forma, diante dos silêncios, das palavras desconexas, dos pequenos gestos, das posturas corporais, dos mínimos detalhes das expressões faciais ou do foco do olhar, vou conseguindo encontrar pistas indispensáveis para detectar se minha mãe está confortável ou padecendo de algum mal-estar.

Nesse reaprendizado da linguagem universal, com a qual todos nós nascemos, a intuição aflora e somos envolvidos por uma capacidade de percepção muito além do alcance da nossa visão comum. Há uma expansão do campo da sensibilidade, que nos permite redescobrir a importância do toque carinhoso, do abraço aconchegante, do beijo espontâneo, do olhar cheio de ternura, da delicadeza dos gestos.

Com paciência, espero o tempo que for necessário para que minha mãe possa assimilar as mensagens e, por si mesma, execute as ações ou me forneça as informações de que preciso para melhor ajudá-la em momentos difíceis de crise ou de mal-estar – como na situação que relato a seguir:

Certa noite, após deitar-se, continuou de olhos abertos. Como sempre, deito junto dela e espero que adormeça. As horas foram avançando e resolvi perguntar se estava sentindo alguma coisa. Olhou-me dizendo – “o quê?” – e soltou um gemido. Perguntei se estava sem sono. Respondeu-me: – “não entendo. Não sei…” Respeitando-lhe o silêncio, fiquei quieta, abraçada com ela e lhe acariciando os cabelos…

Alguns momentos depois soltou mais uns gemidos e me disse: – “Vou lhe perguntar uma coisa…” (pausa) “Vixe, eu não sei…” (pausa) “Quero que você me (palavra ininteligível)… Pausa e mais gemidos, desta vez, passando a mão na barriga. Perguntei então se a barriga estava doendo. Ela apenas me olhou com expressão de dor. Pus a minha mão na barriga dela e insisti: – Dói?.. Dói aqui? … É dor: ai! ai! ai! aqui? Ela disse: – “quê?” (pausa) “Não entendo”… “Não sei…” e continuou a gemer, olhando-me com ar de quem não sabe o que dizer.

Esse jogo de perguntas, silêncios, respostas vagas e alguns gemidos continuou, sem que eu pudesse me situar sobre o que estava acontecendo ou que providência deveria tomar. Quando lhe disse que iria sair para procurar um remédio, ela reagiu: – “Não! Não saia agora não!… Quero lhe perguntar…” (pausa). Esperei um pouco e disse: – O que quer saber? Entre pausas, silêncios, ela disparou a falar: – “Não sei…” “Não entendo”… “Ô meu Deus!”… “Fico pensando…” “Quero me lembrar…” “Não sei…” “Tenho medo…” “Às vezes acho que… tô maluca… que Deus me livre!” (pausa longa) “Não sei se casei se não casei…” “Ah meu Deus!…”

Sentindo-lhe a angústia na agitação do corpo dela contra o meu, abracei-a forte, fui ouvindo, respondendo às perguntas e buscando acalmá-la : – Eu estou aqui com você! (ela ficou me olhando)… Você não está sozinha! (continuou me olhando)… Você não está maluca! Depois ficamos em silêncio… Enquanto a beijava e acarinhava, ela se aconchegou no meu abraço, gemeu um pouco e, após um tempo, adormeceu…

Um abraço a todos e lembrem-se: assim como “o essencial é invisível aos olhos” (Antoine de Saint-Exupéry) somente o coração expressa e traduz a linguagem da alma
Como havia sugerido anteriormente, estava aguardando sugestões de temas para discutirmos nas próximas semanas, por isto hoje irei escrever tomando como base o comentário da internauta Heloísa. Em linhas gerais, ela pediu para que fosse falado sobre as mudanças de atitudes dos idosos que podem comprometer a dinâmica familiar e também sobre as implicações emocionais que a hospitalização pode acarretar no idoso.

Em primeiro lugar vale a pena ressaltar que nem todos os idosos necessariamente manifestarão mudanças de atitudes e comportamentos durante o processo de envelhecimento, assim como também podemos afirmar que nem todos os adolescentes passam por períodos de crise durante a adolescência (fato que garantiu às pessoas desta faixa etária a denominação pejorativa de “aborrecência”). A sociedade acaba rotulando as pessoas a partir de crenças infundadas, por isto muitos taxam os idosos como rabugentos, chatos e caducos, o que é muito ruim.

Alguns idosos (não todos, mas principalmente os acometidos por demências, como a de Alzheimer) apresentam algumas mudanças de comportamento que realmente podem trazer prejuízos para a dinâmica familiar: podem se mostrar muito agitados, como se nunca se cansassem; com insônia, costumam andar e falar pela casa à noite, interferindo no sono das pessoas que também vivem na mesma casa. Outros se mostram deprimidos, não conversam, não querem se alimentar, tomar banho ou mesmo trocar de roupa. Alguns deles podem, mesmo que momentaneamente, esquecer seu pudor e tirar roupas em público. É fato que alguns idosos podem se tornar impulsivos, se irritar com facilidade (mesmo frente a situações às quais ele costumava agir em seu dia-a-dia), discutem com freqüência, mesmo que sem motivos aparentes, sendo que alguns chegam a agredir fisicamente seus familiares e cuidadores. Esquecimentos em maior ou menor intensidade também são notados, assim como desorientação frente a datas e lugares.

Estes foram apenas alguns exemplos de situações que podem causar desconforto, mal-estar, medo, raiva, indignação e sensação de estar sendo incompreendido por parte dos familiares. O idoso também pode sentir reações emocionais frente a estas alterações de humor e comportamento, principalmente aqueles que apresentam momentos de total lucidez: se relatarem a eles alguns dos fatos acontecidos eles realmente não acreditam que fizeram tal fato, sentem vergonha, medo de enlouquecer, de perder a memória, sentem-se humilhados.

Como algumas dessas alterações não são possíveis de serem “curadas”, cabe aos familiares e cuidadores, na medida do possível, lidar com naturalidade e compreensão, lembrando-se sempre de que eventos como agressividade, hostilidade e falta de pudor não são intencionais, mas sim sintomas de um mal que acomete grande parte de idosos sem que muitos tomem conhecimento. Em caso de discussões infundadas, que podem levar a ofensas graves, o melhor é tentar não “bater de frente”, lembrando-se sempre que daqui a pouco tempo o idoso pode nem se lembrar do que aconteceu, e lembra-lo do ocorrido pode acarretar mais sofrimento para ele. Em situações nas quais o idoso se despe em locais públicos cabe ao cuidador recompô-lo o mais depressa possível, evitando uma maior exposição do mesmo. Em casos onde aconteça alguma situação pública como de agressão, hostilidade ou nudez, caso o familiar se sinta mais à vontade, ele pode, em particular, informar às pessoas que presenciaram o fato de que aquilo é sintoma de uma doença, não uma demonstração de violência consciente ou um atentado contra o pudor.

Como acabei me estendendo um pouco mais que o esperado neste post, deixo para falar sobre a institucionalização na próxima semana, pois é um tema que merece ser bem discutido.

Agradeço a atenção, até semana que vem. Espero ter podido contribuir um pouco com a leitora que sugeriu o tema e com os demais internautas.

Boa semana, um abraço!

Luciene Miranda