Como havia sugerido anteriormente, estava aguardando sugestões de temas para discutirmos nas próximas semanas, por isto hoje irei escrever tomando como base o comentário da internauta Heloísa. Em linhas gerais, ela pediu para que fosse falado sobre as mudanças de atitudes dos idosos que podem comprometer a dinâmica familiar e também sobre as implicações emocionais que a hospitalização pode acarretar no idoso.
Em primeiro lugar vale a pena ressaltar que nem todos os idosos necessariamente manifestarão mudanças de atitudes e comportamentos durante o processo de envelhecimento, assim como também podemos afirmar que nem todos os adolescentes passam por períodos de crise durante a adolescência (fato que garantiu às pessoas desta faixa etária a denominação pejorativa de “aborrecência”). A sociedade acaba rotulando as pessoas a partir de crenças infundadas, por isto muitos taxam os idosos como rabugentos, chatos e caducos, o que é muito ruim.
Alguns idosos (não todos, mas principalmente os acometidos por demências, como a de Alzheimer) apresentam algumas mudanças de comportamento que realmente podem trazer prejuízos para a dinâmica familiar: podem se mostrar muito agitados, como se nunca se cansassem; com insônia, costumam andar e falar pela casa à noite, interferindo no sono das pessoas que também vivem na mesma casa. Outros se mostram deprimidos, não conversam, não querem se alimentar, tomar banho ou mesmo trocar de roupa. Alguns deles podem, mesmo que momentaneamente, esquecer seu pudor e tirar roupas em público. É fato que alguns idosos podem se tornar impulsivos, se irritar com facilidade (mesmo frente a situações às quais ele costumava agir em seu dia-a-dia), discutem com freqüência, mesmo que sem motivos aparentes, sendo que alguns chegam a agredir fisicamente seus familiares e cuidadores. Esquecimentos em maior ou menor intensidade também são notados, assim como desorientação frente a datas e lugares.
Estes foram apenas alguns exemplos de situações que podem causar desconforto, mal-estar, medo, raiva, indignação e sensação de estar sendo incompreendido por parte dos familiares. O idoso também pode sentir reações emocionais frente a estas alterações de humor e comportamento, principalmente aqueles que apresentam momentos de total lucidez: se relatarem a eles alguns dos fatos acontecidos eles realmente não acreditam que fizeram tal fato, sentem vergonha, medo de enlouquecer, de perder a memória, sentem-se humilhados.
Como algumas dessas alterações não são possíveis de serem “curadas”, cabe aos familiares e cuidadores, na medida do possível, lidar com naturalidade e compreensão, lembrando-se sempre de que eventos como agressividade, hostilidade e falta de pudor não são intencionais, mas sim sintomas de um mal que acomete grande parte de idosos sem que muitos tomem conhecimento. Em caso de discussões infundadas, que podem levar a ofensas graves, o melhor é tentar não “bater de frente”, lembrando-se sempre que daqui a pouco tempo o idoso pode nem se lembrar do que aconteceu, e lembra-lo do ocorrido pode acarretar mais sofrimento para ele. Em situações nas quais o idoso se despe em locais públicos cabe ao cuidador recompô-lo o mais depressa possível, evitando uma maior exposição do mesmo. Em casos onde aconteça alguma situação pública como de agressão, hostilidade ou nudez, caso o familiar se sinta mais à vontade, ele pode, em particular, informar às pessoas que presenciaram o fato de que aquilo é sintoma de uma doença, não uma demonstração de violência consciente ou um atentado contra o pudor.
Como acabei me estendendo um pouco mais que o esperado neste post, deixo para falar sobre a institucionalização na próxima semana, pois é um tema que merece ser bem discutido.
Agradeço a atenção, até semana que vem. Espero ter podido contribuir um pouco com a leitora que sugeriu o tema e com os demais internautas.
Boa semana, um abraço!
Luciene Miranda
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